Airbnb e o futuro das indústrias hoteleira e de viagens on-line

Essa mistura de letras, que era impronunciável há menos de 8 anos, surgiu como um aplicativo inofensivo e hoje é considerado um disruptor da indústria hoteleira.

O nome tem origem na combinação de “air bed” e “bed & breakfest” (“colchão inflável” e “cama e café da manhã”) e tem a ver com a irreverência dos criadores do serviço de hospedagem que fornece uma plataforma para que os proprietários ofereçam suas residências privadas à hóspedes pagos. Começou discretamente em um nicho que nem de longe poderia incomodar e hoje é a quarta maior agência de viagens online do mundo, vista como uma ameaça pela indústria da hospitalidade, incluindo as OTA’s.

Essa ameaça parece estar crescendo, as manchetes nos EUA revelaram recentemente que o American Hotel and Lodging Association (AHLA), um grupo de comércio da indústria hoteleira, vem aumentando seus esforços de lobby na tentativa de obter mais regulamentação do setor, o que faria frente ao crescimento do Airbnb e serviços similares. A administração da Airbnb respondeu em uma carta aberta e majestosa ao AHLA.

No entanto, enquanto o foco na indústria de hospedagem e na regulação em torno dela está se aquecendo, a Airbnb está expandindo rapidamente seus negócios de forma a colocar mais indústrias, além da hoteleira em alerta. É por isso que as empresas de outras indústrias, como a Expedia, Priceline, Booking.com e TripAdvisor, também estão observando o crescimento da Airbnb.

Airbnb “Trips” ganha força

A Airbnb anunciou o seu novo recurso “Trips” em novembro, a primeira grande expansão do principal negócio da empresa, que é fornecer uma plataforma de reserva de residência privada. A principal característica do Trips é o recurso “Experiências”, que geralmente são visitas guiadas ou outras aventuras que permitem aos usuários experimentarem partes únicas de suas cidades de destino. Por exemplo, você pode fazer um passeio de bicicleta guiado pelas ruas de Amsterdã, ou passar uma manhã surfando com um profissional em Fernando de Noronha, tudo criado pelos hosts locais e reservado diretamente através do aplicativo Airbnb.

O recurso Trips também inclui “Lugares”, como guias eletrônicos dos locais, encontros com outros usuários e passeios guiados por áudio que o usuário pode baixar em seu dispositivo individual. A Airbnb anunciou recentemente que o seu recurso Trips expandiu-se para 20 cidades em todo o mundo – e você provavelmente pode esperar que continue crescendo rapidamente em 2017. Agora, a Airbnb Trips parece bastante focada em seu recurso de Experiências, mas uma linha no comunicado de Novembro, que deve colocar outros sites de reservas de viagens em alerta vermelho é:

Trips foi lançado hoje com três áreas principais – Experiências, Locais e Casas, com as áreas” Vôos” e “Serviços” a serem adicionados no futuro.

O lucrativo negócio das “OTAs”

As agências de viagens on-line (OTA’s), Expedia e Priceline se tornaram empresas extremamente bem-sucedidas, nos EUA, devido ao crescimento das reservas de viagens on-line, uma vez que um número crescente de clientes vai à web para reservar seus vôos e outras opções de viagem – das quais essas e outras OTA’s obtêm uma considerável fatia. As vendas agregadas de viagens on-line atingiram a cifra impressionante de US$ 565 bilhões em 2016, de acordo com a Statista, e espera-se que atinjam mais de US$ 800 bilhões em 2020. Como resultado do crescimento nesta indústria, as vendas dessas empresas aumentaram.

Este mercado lucrativo também atraiu o TripAdvisor, que ganhou fama como um agregador de avaliações de viagens e obteve sua receita de publicidade para seus milhões de visitantes do site. O TripAdvisor tem tentado mudar seu modelo de negócios para agora incluir a opção para que as pessoas possam reservar diretamente em seu site, por meio do Instant Book, para que assim ele também possa ganhar essas taxas pagas às OTA’s. Até agora, a empresa está lutando para obter retorno sobre o investimento realizado e a Airbnb aumentar sua presença neste espaço provavelmente não seria útil para o TripAdvisor.

A forma como a Airbnb parece diversificar seus negócios, tentando tomar uma participação massiva no mercado de viagens on-line por meio de mais serviços de reserva oferecidos é um próximo passo sensato. As OTA’s já estão indubitavelmente sentindo a pressão do negócio de reserva de hotel perdido para a Airbnb, mas como a Airbnb continua a provar seu modelo “Trips” e pretende, adicionar vôos e serviços, você pode esperar que essa pressão aumente.

O que a indústria da hospitalidade precisa acompanhar e o que os hotéis podem fazer

Se você é parte de um desses segmentos, saiba que a Airbnb certamente não significa o fim para essas empresas, já que toda a indústria continua a crescer de forma saudável. Enquanto a Airbnb está ocupada causando rupturas na indústria hoteleira, o Marriott International, atualmente o maior hoteleiro por valor de mercado, viu o aumento, em mais de 50%, do preço de suas ações ao longo do último ano, em meio a suas próprias vendas e ganhos crescentes. Para não mencionar que a maioria dessas empresas também está ocupada criando ou adquirindo recursos e soluções para competir em programas de home-sharing e experiências locais.

Para o hóspede, sentir-se atendido hoje em dia não significa só uma reserva livre de aborrecimentos, mas também serviços e ofertas que reflitam mensagens individualizadas e marketing com base em seu perfil pessoal, atividades e preferências. Para evitar uma sangria em suas reservas, os hotéis precisam divulgar suas instalações para reuniões ou encontros de negócios, criar ou melhorar seus programas de fidelidade e principalmente, individualizar o cliente, se preparando para oferecer a ele experiências únicas em parceria com fornecedores locais. Para isso é imprescindível o investimento em um CRS (Sistema de Reservas Centralizado) que permita a venda, não só de hospedagem, mas de produtos e serviços agregados, como ingressos para parques, shows e eventos, passeios, workshops e cursos.

Ainda assim, a ascensão da Airbnb como uma OTA mais completa é uma tendência e deve ser acompanhada de perto.


 

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Adilson Paulicena
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